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A GAIOLA DOS HUMANOS

Muita coisa me impressionou nos últimos debates entre os presidenciáveis, mas nada me impactou tanto como o comportamento do Sr. Levy Fidélix. Mesmo que o candidato do Partido Renovador (sim, Renovador!)Trabalhista Brasileiro seja injustamente comparado nas redes sociais ao muito mais simpático Mr.Cosmo Spacely, chefe de George Jetson, o assunto não é piada.

Independente (ou nem tanto) dos ataques aos homossexuais que, diga-se de passagem, tem sido um posicionamento eficiente e cada vez mais utilizado por candidatos à extrema direita de Deus Pai, o que me impressionou na “performance” do sr. Levy Fidélix foi o ódio vestido de ira sagrada que dirigiu aos seus interlocutores: rosto crispado, olhos injetados e uma linguagem corporal digna de estudo. Além do fato, é claro, de me parecer no mínimo curiosa sua preocupação com o aparelho de fazer cocô alheio. Aliás, não é incrível que em pleno século XXI alguém pense que sexo só serve para reprodução?

Mas, enquanto o sr. Fidélix espalha a peste emocional destes “tempos modernos”, o Papa Francisco convoca um Sínodo sobre a família. Na pauta, assuntos como a união homossexual e métodos contraceptivos. Seria uma luz no fim do túnel ou apenas uma ofensiva de marketing da igreja católica em busca de ovelhas desgarradas e rejeitadas pela concorrência?

O fato é que vivemos um tempo em que a transparência é dada, não é mais opcional. Portanto, homofóbicos e homossexuais, racistas e negros, fundamentalistas e ateus, loucos e caretas, têm se encontrado com maior frequência frente a frente, nariz com nariz, muito, muito mais próximos do que jamais estiveram. Logo, assuntos tabus são debatidos mais abertamente, provocando desconforto e até desespero em quem não se preparou para a pluralidade e para o convívio civilizado com a diferença.

A verdade é que para se viver num mundo onde a privacidade agoniza e nada mais permanece embaixo do tapete ou socado em armários perversos, maturidade e uma boa dose de humildade são fundamentais para que possamos coexistir com outras formas de ser, pensar, sentir e ver o mundo, além… das nossas próprias.

Não é fácil, eu sei. A razão clássica não admite a diferença. Mas o que difere uma nação desenvolvida de uma subdesenvolvida, entre outras coisas, é o respeito à individualidade e isso só é possível quando atingimos graus mínimos de informação e educação. Sim, porque a ignorância nos leva ao obscurantismo e à intolerância. Preconceito é dominação e fruto de um mecanismo de defesa pré-histórico: o que não conheço é ameaça, então, por via das dúvidas, ataco. Lei da sobrevivência.

Aliás, posso estar enganada mas parece haver também um outro processo amplamente examinado pela psicanálise, e que tem a ver com a rejeição a algo que reconheço como próprio e que nego veementemente . Como aquele sujeito que é homofóbico de carteirinha só pra provar ao mundo que não é homossexual, quando na verdade o é.

Eu, hein,santa?

Não vivemos mais, ou pelo menos uma boa parte dos brasileiros em cavernas ou sob regimes totalitários e criminosos como o nazista, e por sorte estamos longe o bastante das garras daquele filhote de pikachu coreano que faz sabão (literalmente) de quem não concorda com ele.

Mas o fato é que incitar o ódio em um ambiente onde a violência já está completamente fora de controle, pode resultar numa queda muito mais drástica da população do que a incapacidade reprodutora de parceiros do mesmo sexo.

Prefiro acreditar num mundo baseado no conhecimento e pautado pelo respeito. Aposto numa sociedade preparada para conviver com as diferenças mesmo quando isso significa lutar pelo direito do Sr. Fidelix de expressar a sua opinião. Acredito nas vias de mão dupla onde os defensores do aborto podem conviver pacifica e respeitosamente com pastores que pregam o contrário, assim como os que precisam de remédios à base de Cannabis e os que só querem fumar unzinho, com os veementemente contra a maconha e até - porque não, com aqueles que são oficialmente caretas, mas só oficialmente.

Não suporto a violência, a opressão, toda e qualquer maldita forma de dominação. Espero portanto francamente que São Sebastião Flechado abençoe o Sínodo e que a igreja católica inspire mudanças importantes no comportamento de monstros que sonham com um mundo de divisões e desumanidades.

Mas, se por acaso tudo sair errado e a intolerância reinar soberana, bem, então quando esta nuvem negra de obscurantismo pairar sobre nós, espero que sobre um lugar pra mim na gaiola dos humanos.


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