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REVOLUÇÕES

REVOLUÇŌES,

Quando vi pela primeira vez as construções geodésicas do Parque Estadual de Exposições Assis Brasil com as cores do Rio Grande, meu coração disparou e a fantasia infantil não ficou atrás. Na época, elas eram chamadas de “as bolas do parque de Esteio” e, reza a lenda, que a gauchada vinda de pagos ainda mais tradicionais que os da Capital, se recusava a entrar nos pavilhões.

Meu gosto por inovação se confirmava com a excitação que eu sentia ao cruzar o acesso do Mata-borrāo, na esquina da Borges com a Andrade Neves, e com o mágico balanço da cobertura do edifício principal do Jóquei Clube. Signos emblemáticos de modernidade e futuro.

Os amigos vāo brincar dizendo que estou entregando a idade, mas é justamente o tempo, que capacita minha reflexāo. Passados 35 anos, tenho a sensação de que não mudamos em quase nada: somos conservadores e tradicionalistas, e nisso, reside o melhor, mas também o nosso pior.

Por sorte, a contracultura florece em terrenos mais áridos. Beats e hippies nasceram e se reproduziram apaixonadamente em ambientes conservadores e tradicionalistas. A lógica parece ser a seguinte: enquanto o conservadorismo e o tradicionalismo freiam as mudanças, as contraculturas geram questionamento, transformação e inovação.

No meu reencontro com Porto Alegre, ainda não me deparei com uma arquitetura inovadora capaz de me emocionar e constato que, em outros setores do nosso Rio Grande, também seguimos no exasperante "despacito no más". Ainda assim, a revolução digital nos atropela e estamos todos, chimangos, colorados, maragatos e gremistas, embarcados em uma viagem irreversível em direção ao futuro, que, aliás, já é presente.

A nova tecnologia móbile, mudou a forma como nos relacionamos com o mundo e a maneira como trabalhamos. E mais, mudou para sempre nossa concepção de tempo e espaço. Vocês já se deram conta da rapidez com que nos acostumamos com a ideia de que o mundo agora está na nuvem? Mas a chave não está na tecnologia, a chave está no PENSAMENTO que, aliás, é onde acontece a verdadeira evolução. Assim sendo, não posso deixar de pensar nos efeitos da chamada Revolução Digital naqueles que ainda vivem, intensa e apaixonadamente, a Revolução Farroupilha.

Como conjugar tradição e inovação? Que tipo de processo mental é necessário para assimilar conceitos como o da nuvem? Como negociar com nossa histórica desconfiança, nossa teimosia e com nosso orgulho bairrista em um mundo sem fronteiras? O que defenderemos agora? Que tal defender o mérito, a coragem e um processo permanente de inovação e, assim, pelear pela permanência do talento que ainda hoje precisa migrar para São Paulo, Rio, ou pras cucuias??

Segundo o historiador Peter Burke, quando a máquina impressora chegou a Paris, a imprensa foi saudada como o “Cavalo de Tróia”. A inovação levou pau de copistas, papeleiros (que vendiam livros manuscritos) e de cantores contadores de histórias, que temiam que a imprensa os privaria de seu meio de vida. E foi exatamente o que aconteceu.

A verdade é que todo processo de inovação tem sempre um aspecto positivo e um aspecto negativo, um lado destrutivo e um lado criador. Podem apostar que nos próximos anos dezenas de profissões irão desaparecer, outras tantas irão se transformar e centenas serão inventadas. Isso mesmo, estou falando de profissões que ainda sequer conhecemos. No entanto, seja via manuscrito, jornal impresso, ou tablet, a idéia de comunicar prevalece e, assim será, até o dia em que o seu jornalista ou escritor favorito, tomar forma bem diante dos seus olhos para narrar uma história, ou comunicar um fato. Como os antigos contadores de histórias.

Outro dia, durante uma cavalgada num lindo Campo dos que ficam em cima da Serra, montado em uma égua gateada, o peão que me conduzia tinha entre as rédeas um Iphone. Curiosa, emparelhei o tordilho e ele me contou orgulhoso que tinha baixado o “estragão”* e me pediu para fazer uma foto. Então, perguntei se ele pendurava suas fotos na nuvem e ele me olhou desconfiado.

Acho que fui longe demais.

Aliás, é o que alguns dirão sobre certas afirmações contidas neste artigo. Afinal, onde ela quer chegar? E então respondo: que tal no século XXI, só pra começar?


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